segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

40 anos depois de abril, património e ciência no norte de Portugal

Deixamos aqui um pequeno excerto da Revista da Faculdade de Letras CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO, Porto 2014 - Vol. XIII, pp. 171-181

"Apesar de Tongobriga ter ocupado cerca de 50 hectares, aparentemente não deixara “marca evidente”, mas em 2014, trinta e quatro anos depois da primeira escavação, nestes 50 hectares formalmente denominados como Área Arqueológico do Freixo, registamos: Um Castro romano, uma cidade romana, uma paróquia cristã primitiva e a aldeia atual. Um Castro “romano” foi construído em torno do ano zero em terrenos à cota 300, enquanto os anteriores estavam implantados sobre os 400 metros. Entretanto, decorridas cerca de oito décadas, o espaço de implantação deste castro foi reformulado, substituído e ampliado, dando lugar a uma Cidade romana, TONGOBRIGA, onde se salientavam o forum, as termas, os espaços habitacionais e as necrópoles. A construção desta cidade foi concentrada no final do século I, sob governo dos imperadores flavianos e também no início do século II, sob Trajano e Adriano. A similitude das técnicas de construção da paisagem e as tipologias de arquitetura usadas noutros sítios, permite-nos dizer que esta cidade resultou da estratégia política romana de construção de várias cidades no vale do Douro, interpretando a lógica de administração para a região “transduriana” que Augusto tinha proposto algumas décadas antes. Em Tongobriga registam-se usos urbanos ao longo dos séculos II, III, IV e V. Foi também referida como Paróquia em documentos do século VI, associada à cristianização do noroeste. Depois, poderá ter sido sítio modesto medieval e moderno. A atual aldeia do Freixo ainda é habitada, embora só por dezenas de pessoas, está no interior do espaço classificado, embora só reaproveite uma pequena parte do espaço da cidade romana, reaproveitando alguns muros e pedra das edificações antigas. Mas o que é que a revolução de Abril de 1974 tem a ver com estes resultados patrimoniais e científicos? A esta questão respondo sem dificuldade na medida em que só podemos sintetizar estes resultados em 2014 porque em 1974 houve um 25 de abril especial e com ele surgiu a sementeira de ideias que desafiou gerações. Foram momentos em que muitos estiveram simultaneamente empenhados, em que se construíram ilusões, mas também em que se permitiu construir futuro. Embora a sociedade portuguesa já estivesse em mudança há cerca de uma década, foi em 1974 que atingiu um ponto crítico, permitindo converter e adaptar ideias e processos mas também reinventar procedimentos e motivações que facilitaram a passagem para uma sociedade nova que quis conhecer melhor a sua identidade e reconhecer o seu passado. Estas preocupações foram muito defendidas pelas “novas” autarquias e pelas estruturas regionais que abril de 1974 motivou e desafiou."

O texto integral pode ler-se  http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12884.pdf 

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