Deixamos aqui um pequeno excerto da Revista da Faculdade de Letras CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO, Porto 2014 - Vol. XIII, pp. 171-181
"Apesar de Tongobriga ter ocupado cerca de 50 hectares, aparentemente não deixara
“marca evidente”, mas em 2014, trinta e quatro anos depois da primeira escavação,
nestes 50 hectares formalmente denominados como Área Arqueológico do Freixo,
registamos: Um Castro romano, uma cidade romana, uma paróquia cristã primitiva
e a aldeia atual.
Um Castro “romano” foi construído em torno do ano zero em terrenos à cota
300, enquanto os anteriores estavam implantados sobre os 400 metros. Entretanto,
decorridas cerca de oito décadas, o espaço de implantação deste castro foi reformulado,
substituído e ampliado, dando lugar a uma Cidade romana, TONGOBRIGA, onde se
salientavam o forum, as termas, os espaços habitacionais e as necrópoles.
A construção desta cidade foi concentrada no final do século I, sob governo dos
imperadores flavianos e também no início do século II, sob Trajano e Adriano.
A similitude das técnicas de construção da paisagem e as tipologias de arquitetura
usadas noutros sítios, permite-nos dizer que esta cidade resultou da estratégia política
romana de construção de várias cidades no vale do Douro, interpretando a lógica de administração para a região “transduriana” que Augusto tinha proposto algumas
décadas antes.
Em Tongobriga registam-se usos urbanos ao longo dos séculos II, III, IV e V. Foi
também referida como Paróquia em documentos do século VI, associada à cristianização
do noroeste. Depois, poderá ter sido sítio modesto medieval e moderno.
A atual aldeia do Freixo ainda é habitada, embora só por dezenas de pessoas, está
no interior do espaço classificado, embora só reaproveite uma pequena parte do espaço
da cidade romana, reaproveitando alguns muros e pedra das edificações antigas.
Mas o que é que a revolução de Abril de 1974 tem a ver com estes resultados
patrimoniais e científicos?
A esta questão respondo sem dificuldade na medida em que só podemos sintetizar
estes resultados em 2014 porque em 1974 houve um 25 de abril especial e com
ele surgiu a sementeira de ideias que desafiou gerações. Foram momentos em que
muitos estiveram simultaneamente empenhados, em que se construíram ilusões, mas
também em que se permitiu construir futuro. Embora a sociedade portuguesa já
estivesse em mudança há cerca de uma década, foi em 1974 que atingiu um ponto
crítico, permitindo converter e adaptar ideias e processos mas também reinventar
procedimentos e motivações que facilitaram a passagem para uma sociedade nova que
quis conhecer melhor a sua identidade e reconhecer o seu passado. Estas preocupações
foram muito defendidas pelas “novas” autarquias e pelas estruturas regionais que abril
de 1974 motivou e desafiou."
O texto integral pode ler-se http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12884.pdf